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Reliquia exposta na catedral de Chartres |
“Esta relíquia tão preciosa era guardada numa urna feita em cedro, que o ourives Teudon recobriu com placas de ouro no fim do século X.
“Todas as gerações rivalizaram para orná-la e penduravam pelos quatro lados toda espécie de maravilhas. Viam-se camafeus antigos, o mais belo dos quais fora doado pelo rei Carlos V e representava um Júpiter que acreditava-se ser São João por causa de sua águia.
“Sobre um fundo semeado de rubis, topázios e ametistas destacavam-se duas águias em ouro entalhadas outrora por Santo Elói. Uma enorme zafira era o presente do rei Roberto e um grifo de ouro esmaltado tinha sido trazido do Oriente no tempo das Cruzadas.
“Filipe o Belo deixou um rubi e o duque de Berry seus emblemas com suas armas.
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Rosácea de vitrais na catedral |
“Inumeráveis rosas, coroas, flores e castelos de ouro, conjuntos de pedrarias formando o nome da Virgem, pérolas espalhadas por toda parte eram muitos outros dons e ex-votos anônimos.
“Como já não havia lugar em volta da urna, foi necessário pôr a quantidade imensa de oferendas em três tesouros da catedral. Alguns dons eram magníficos, outros de uma ingenuidade comovedora: havia um cinto de porco espinho bordado com sedas e enviado pelos índios Huron da América do Norte e onze mil grãos de porcelana representando o número de habitantes Abénaquis da Nova França (índios do Canadá). As oferendas só cessaram na véspera da Revolução Francesa.
“A urna de tal maneira rica e rodeada de tanta veneração, entretanto não era exposta jamais e a Santa Túnica ficou invisível durante séculos.
“Como não se tinha idéia alguma de como pudesse ser a túnica de Nossa Senhora, imaginava-se ter a forma de uma camisa. Era chamada com freqüência de “a Santa Camisa”.
“No século XV, os romeiros que iam a Chartres colocavam no seu chapéu um símbolo de chumbo onde estava representada uma camisa.
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Relicário onde se guarda a relíquia quando não está exposta |
“Camisas de pano tocadas na urna ajudavam as mulheres a suportar as dores do parto e eram enviadas às rainhas da França.
“Quando a Revolução Francesa violou o mistério e abriu a urna, percebeu-se que a Santa Túnica não parecia em nada com uma camisa.
“Trata-se de uma dessas peças de pano que usam as mulheres do Oriente e que vinha acompanhada de um véu decorado com dois leões que se olham frente a frente.
“O sábio abade Barthélemy, quando consultado, constatou que esses tecidos eram de origem síria e podiam remontar ao século I de nossa era.
“Hoje só ficam alguns fragmentos da Santa Túnica e do véu salvos do Terror (ditadura sanguinária da república francesa 1792-1794) e resguardados num relicário de feitio posterior.”
Fonte: Émile Mâle, “Notre Dame de Chartres”, Flammarion, Paris, 1994, 190 páginas, p. 17 e ss.
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