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Channel: Jóias e símbolos medievais
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Jóia arquitetônica: o castelo medieval

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Vitré
De dois modos costuma-se ver os castelos feudais. Ora é o suave e romântico solar dos contos de fadas, com suas torres brilhando ao luar, sua ponte levadiça baixando silenciosamente para deixar entrar o príncipe valente e formoso, que vem encontrar-se com a dama dos seus sonhos, enquanto o vigia soa a trompa e as notas maviosas se espalham pelo lago ao redor, etc.

Para outros é o tenebroso reduto da opressão de um tirano, com negras masmorras em que gemem servos desgraçados, cujas plantações foram destruídas pelas cavalgadas do senhor em alegres folgares de caça, ou pilhadas por sua hoste em rudes lides de guerra.

Clerans, Castelos medievaisA verdade não está em nenhum destes extremos, clamorosamente contraditórios entre si.



O feudalismo na Idade Média foi suscitado pela Igreja.

Foi o espírito católico dos homens medievais que os levou a se organizarem numa sociedade como nunca houve mais perfeita.

Nem o romantismo dos trovadores, que marca a decadência do espírito medieval, nem as assombrações ridículas com que os inimigos da Igreja procuram denegrir as instituições da civilização cristã nos dão a verdadeira fisionomia do castelo feudal.

Para compreendê-la, remontemos às suas origens e vejamos como os castelos surgiram, como evoluíram, como se formou a sociedade feudal de que eles são imagem.

Castelo de Val, Dordogne
Embora todas as nações da Cristandade tenham tido a mesma estrutura social, a evolução foi diferente em cada caso.

E a França foi o paíse onde o feudalismo atingiu seu apogeu.

(Fonte: “Catolicismo”, nº 57, setembro de 1955)

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Vitrais: jóias feitas de luz

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No primeiro vitral que eu vi, eu tive a impressão que aquele mosaico de cores abria um buraco dentro da realidade material e conduzia meu olhar maravilhado para outra realidade que estava além do sensível.

O vitral me dava a impressão de que além da carapaça da matéria havia uma região aonde o maravilhoso se externava daquela maneira. O vitral, a bem dizer, é a porta dessa região.

Depois dessa porta há outra ordem de coisas. Está Deus. Aquele vitral é como que o cartão de visitas de Nosso Senhor, como que seu escudo heráldico.

O escudo heráldico não é a fotografia de um homem, mas é a descrição da mentalidade de uma família.

O vitral é a heráldica de Deus.

A luz criada por Deus penetrava no vitral e Deus como que dizia: "meu filho, sua alma dá para isso! sua vida existe para isso! tudo que está embaixo são coisas que na medida em que conduzem a isso estão bem".

Resultado: alguém que voltando-se de olhar para a igreja de Saint Michel visse um grupo de punks dando risada da basílica, fazendo cambalhotas, e querendo, por exemplo, jogar lixo ali dentro, a posição natural e imediata seria ...

Há uma proporção: quanto mais alto a alma subiu, mais essa reação seria definida. A reação é o termômetro exato do entusiasmo.




Esse estado de espírito maravilhado diante do primeiro vitral pode passar rápido demais em algumas almas.


Mas deixa uma recordação que se fixa para todo o sempre se a alma continua fiel. Ali ela se encontra a si mesma, há uma espécie de identidade dela consigo mesma.

Deus criou aquela pessoa para viver nesse estado de espírito. Ela então vive disso.

Na medida em que ela não vive para isso, ela não tem a fisionomia que Deus quis para ela. Ela não sabe qual é sua verdadeira fisonomia.

De ali vem todos esses vazios, tristezas e frustrações que andam por ai.

Plinio Corrêa de Oliveira, 3/1/82. Texto sem revisão do autor.

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A coroa de Carlos Magno: jóia adequada ao imperador arquetípico

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Na ilustração vemos a coroa de Carlos Magno (742 – 814), o imperador cristão arquetípico.

Na placa frontal, destacam-se as incrustações de pedras preciosas em cabochon, que é a pedra natural, polida, mas sem lapidação.

As pedras incrustadas na coroa são desiguais e enormes; as placas de metal formam como que um quadro cada uma. Sobressai o elo possante de um arco, que encima a preciosa jóia.

No ponto mais alto da placa frontal, uma cruz, significando que o princípio de unidade de tudo é o instrumento de suplício e de glória d’Aquele que é único – a Crux Domini Nostri Jesu Christi (a cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo), aos pés da qual chorou Maria Santíssima.

Vendo a coroa de Carlos Magno, pode-se tentar fazer a recomposição da fisionomia para a qual o artista idealizou essa jóia, porque não se concebe essa coroa para um rosto banal.



Carlos Magno, modelo ideal de imperador católicoQuem a usa, ou possui a fisionomia de um Carlos Magno ou ela fica desproporcional. Não sei como se sentiria um filho dele sob tal coroa. É uma jóia que desafia a fronte sobre a qual ela pousa.

Podemos conjeturar o grande imperador coroado, sua fisionomia radiante, seu rosto ostentando a barba branca e, segundo a legenda, florida. Há um quadro (ilustração ao lado) do pintor alemão Albert Dürer (1471 – 1528), que bem representa essa idéia e a grande personalidade de Carlos Magno.

(Fonte: Plinio Corrêa de Oliveira, 26-10-1980. Sem revisão do autor. Apud “Catolicismo”, maio de 2009)


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A Santa Túnica de Nossa Senhora em Chartres - 1

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Catedral de Nossa Senhora, Chartres, França
“Uma coisa é certa: desde muito cedo Nossa Senhora foi venerada em Chartres.

“Na época carolíngia, sua catedral já devia ser o centro mais célebre de seu culto na França do Norte, pois o rei Carlos o Calvo, em 876, presenteou-lhe uma relíquia preciosa entre todas: a Santa Túnica da Virgem.

“A relíquia fora enviada pelo imperador de Bizâncio para Carlos Magno e enriqueceu a igreja de seu palácio em Aquisgrão.

“Essa túnica é a que Nossa Senhora levava no momento da Anunciação, quando concebeu o Verbo.

“A Idade Média não tinha uma relíquia mais pura nem mais poética. Desde cedo, Chartres considerou a Santa Túnica como uma garantia de defesa e um sinal de salvação.

Carlos o Calvo doou a relíquia à catedral de Chartres
“Havia poucos anos que ela estava na catedral quando o rei viking Rollon, ainda pagão, veio sitiar a cidade em 911.

“Um cronista do século XI narra que durante a batalha, o bispo de Chartres compareceu sobre os muros da cidade portando a Santa Túnica como estandarte.

“À vista dela, os normandos, tomados por um terror pânico, desfizeram as fileiras e fugiram.

“Mais tarde, Rollon ele próprio tornou-se cristão e apressou-se em fazer uma doação a Nossa Senhora de Chartres, cujo poder tinha experimentado.

“Durante muito tempo conservou-se uma pequena faca pressa por um cordão de seda ao pergaminho da doação, seguindo o simbolismo do direito bárbaro, .

“O documento possuia uma brevidade e uma grandeza épicas.

A Santa Túnica de Nossa Senhora no seu estado atual
“O doador ditou-o nos seguintes termos:

“Eu, Rollon, duque da Normandia, eu doou aos irmãos da igreja de Nossa Senhora de Chartres meu castelo em Malmaison, que eu ganhei com minha espada e que com minha espada eu defenderei. Que esta punhal sirva de prova”.

“A Santa Túnica foi a grande relíquia de Chartres. Foi sobre tudo ela que tornou célebre a catedral e atraiu os peregrinos durante os séculos”.



Fonte: Émile Mâle, “Notre Dame de Chartres”, Flammarion, Paris, 1994, 190 páginas, p. 17 e ss.



Continua no próximo post




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A Santa Túnica de Nossa Senhora em Chartres - 2

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Continuação do post anterior


Reliquia exposta na catedral de Chartres


“Esta relíquia tão preciosa era guardada numa urna feita em cedro, que o ourives Teudon recobriu com placas de ouro no fim do século X.

“Todas as gerações rivalizaram para orná-la e penduravam pelos quatro lados toda espécie de maravilhas. Viam-se camafeus antigos, o mais belo dos quais fora doado pelo rei Carlos V e representava um Júpiter que acreditava-se ser São João por causa de sua águia.

“Sobre um fundo semeado de rubis, topázios e ametistas destacavam-se duas águias em ouro entalhadas outrora por Santo Elói. Uma enorme zafira era o presente do rei Roberto e um grifo de ouro esmaltado tinha sido trazido do Oriente no tempo das Cruzadas.

“Filipe o Belo deixou um rubi e o duque de Berry seus emblemas com suas armas.

Rosácea de vitrais na catedral
“O rei Luis XI levava sempre uma pequena imagem de Nossa Senhora de Chartres no seu chapéu. Um cinto de ouro envolvendo a urna era presente de Ana de Bretanha, duquesa e rainha.

“Inumeráveis rosas, coroas, flores e castelos de ouro, conjuntos de pedrarias formando o nome da Virgem, pérolas espalhadas por toda parte eram muitos outros dons e ex-votos anônimos.

“Como já não havia lugar em volta da urna, foi necessário pôr a quantidade imensa de oferendas em três tesouros da catedral. Alguns dons eram magníficos, outros de uma ingenuidade comovedora: havia um cinto de porco espinho bordado com sedas e enviado pelos índios Huron da América do Norte e onze mil grãos de porcelana representando o número de habitantes Abénaquis da Nova França (índios do Canadá). As oferendas só cessaram na véspera da Revolução Francesa.

“A urna de tal maneira rica e rodeada de tanta veneração, entretanto não era exposta jamais e a Santa Túnica ficou invisível durante séculos.

“Como não se tinha idéia alguma de como pudesse ser a túnica de Nossa Senhora, imaginava-se ter a forma de uma camisa. Era chamada com freqüência de “a Santa Camisa”.

“No século XV, os romeiros que iam a Chartres colocavam no seu chapéu um símbolo de chumbo onde estava representada uma camisa.

Relicário onde se guarda a relíquia quando não está exposta
“Fazia-se tocar na urna minúsculas camisas de metal que os homens de guerra levavam consigo como proteção. Num duelo, o gentil-homem que tinha no peito uma “camisola” de Chartres, devia prevenir lealmente a seu adversário.

“Camisas de pano tocadas na urna ajudavam as mulheres a suportar as dores do parto e eram enviadas às rainhas da França.

“Quando a Revolução Francesa violou o mistério e abriu a urna, percebeu-se que a Santa Túnica não parecia em nada com uma camisa.

“Trata-se de uma dessas peças de pano que usam as mulheres do Oriente e que vinha acompanhada de um véu decorado com dois leões que se olham frente a frente.

“O sábio abade Barthélemy, quando consultado, constatou que esses tecidos eram de origem síria e podiam remontar ao século I de nossa era.

“Hoje só ficam alguns fragmentos da Santa Túnica e do véu salvos do Terror (ditadura sanguinária da república francesa 1792-1794) e resguardados num relicário de feitio posterior.”

Fonte: Émile Mâle, “Notre Dame de Chartres”, Flammarion, Paris, 1994, 190 páginas, p. 17 e ss.



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O Cálice da Última Ceia, ou Santo Cálice de Valência

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Cálice da Última Ceia, Valencia, Espanha
Há muitas lendas acerca da história do Cálice utilizado na última Ceia.

Mas é na Catedral gótica de Valência, na Espanha, que está esse Santo Cálice.

Nos arquivos da Catedral, se conservam os documentos que atestam sua autenticidade.

Eis a história:

Depois da assunção de Nossa Senhora, São Pedro levou o Cálice à Roma.

Lá, os Papas o utilizavam na celebração da Missa, até a perseguição aos cristãos da época de Valério.

São Lourenço, o diácono, pouco antes do seu martírio, enviou-o, para estar bem guardado, à Huesca, sua cidade natal, com uma carta escrita de seu próprio punho.

Em Huesca se conservou até 713, sendo depois resgatado dos invasores sarracenos e entregue ao Rei Mártir de Aragão.

De Zaragoza foi levado à Valência pelo Rei Alfonso V.


(Historietas catequísticas, 28º serie — F.H. Drinkwater – Editorial Herder, Barcelona, – 1ª. edição, 1902, p. 436)

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A espada de “El Cid Campeador”

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A espada aqui representada é uma cópia feita em Toledo da espada do Cid.

A cópia tem elementos que não parecem autênticos, pois são pós-medievais.

Por exemplo o arabesco no começo da espada é claramente renascentista.

O fato não surpreende, porque antigamente para honrar as armas, as gerações posteriores embelezavam-nas.

O desconto feito, a espada simboliza perfeitamente o Cid.

Porque nela há uma nobilíssima despreocupação da estética.

Ela não é propriamente feia, mas ela é como é.

Ela simboliza bem como deve ser a resolução de alma do cavaleiro católico.

A espada possui uma inegável sobriedade.

Uma espada ornamental seria trabalhada até em baixo, teria por exemplo um figurinha mitológica, umas carinhas de anjinhos nas pontas.

Mas ela não tem nada disso. Ela é eminentemente sóbria. Isso é próprio à alma do cavaleiro e indica a natureza de sua resolução.

Não é a resolução do fanfarrão, mas do homem lógico, que quer realizar a dever até o fim sem se mostrar.

Há um ornato simples como que monástico. É um símbolo inteiramente idôneo de um alto heroísmo.

Esse alto heroísmo só nasce em almas completamente plácidas, que não tem explosões, nem irregularidades, que são inteiramente tranqüilas mas que quando resolvem, o fazem de um modo inexorável: “o raciocínio me indicou que é assim e, portanto, eu farei porque eu tenho que fazer e agora vai”.

Essa placidez completa da alma forte é o corolário do heroísmo.

(Fonte: Plinio Corrêa de Oliveira, 9.1.1974. Sem revisão do autor)

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Proclamar com ufania a glória da Cruz

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A honra de Nosso Senhor Jesus Cristo é reivindicada pela Igreja.

Por isso os católicos tomaram a cruz como sinal de honra, símbolo de tudo quanto há de mais sagrado e de mais santo.

Como conseqüência, temos as manifestações características dos tempos de fé: a cruz colocada no alto das coroas, como sinal distintivo dos mais nobres; nos brasões das famílias de alta aristocracia; e como insígnia das condecorações.

Tudo comprovando que o católico celebra a Exaltação da Santa Cruz a fim de glorificá-la, em repúdio à humilhação sofrida por Nosso Senhor com a crucifixão, e assim revidar com ufania cavalheiresca e sobrenatural.

Tomar a cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo e glorificá-la; proclamar a glória da cruz com ufania; esmagar as humilhações que o adversário procura impingir contra ela — daí vem a palavra “exaltar”, isto é, levantar bem alto aquilo que estava humilhado.

É a glorificação da cruz de Nosso Senhor.


Excertos da conferência proferida pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em 29 de setembro de 1965. Sem revisão do autor.


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A tríplice coroa dos Papas tomou forma final na Idade Média

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Brasão do Estado da Cidade do Vaticano
O Estado da Cidade do Vaticano tem um brasão. Ele se compõe com duas chaves cruzadas, a tiara pontifícia sobre fundo vermelho e a inscrição “Estado da Cidade do Vaticano” e uma estrela de oito pontas.

A tiara, também conhecida como “triregno” (literalmente tríplice reinado) está composta de três coroas e leva no topo um globo com a cruz.

É a coroa própria dos Papas.

É uma coroa única no mundo. E tomou sua forma praticamente definitiva durante a Idade Média.

Coroas semelhantes à tiara já foram usadas na Antiguidade, inclusive por egípcios, partos, armênios e frigios.

A origem mais remota dela está no Antigo Testamento. Deus disse a Moisés: “Farás também uma lâmina do mais puro ouro, na qual farás abrir por mão de gravador: ‘Santidade ao Senhor’. E atá-la-ás com uma fita de jacinto e estará sobre a tiara, iminente à testa do pontífice. E Arão levará sobre si. E sempre esta lâmina estará sobre a sua testa para que o Senhor lhe seja propício” (Ex, 28, 36-37).


Tiara de Pio VII
Tiara de Pio VII.
Aarão, irmão de Moisés é o arquétipo de Sumo Sacerdote e prefigura os Papas instituídos por Nosso Senhor Jesus Cristo na pessoa de São Pedro, e continuado por seus sucessores de Roma.

O Papa Sérgio III (904-911) fez cunhar moedas com a imagem de São Pedro com tiara. Na basílica inferior de São Clemente, em Roma, um fresco do fim do século XI apresenta o Papa Adriano II (867-872) com a tiara.

A primeira coroa da tiara reúne simbolicamente a jurisdição eclesiástica do Papa e a coroa do governo temporal sobre os feudos pontifícios.

Bonifacio VIII (1294-1303), que sofria execrável revolta do rei da França Filipe o Belo, acrescentou a segunda coroa, para sublinhar que a autoridade espiritual do Papa está por cima da autoridade temporal dos reis.

Bento XII (1334-1342) acrescentou a terceira coroa para simbolizar a autoridade efetiva do Papa sobre todos os soberanos, o que inclui o poder de instituí-los (como fez São Leão III com Carlos Magno imperador) ou destituí-los (como São Gregório VII com o imperador Henrique IV).

As três coroas representam também a potestade máxima na Ordem do Sacerdócio, na Jurisdição (ou poder de mando) Universal e no Magistério Supremo, exclusivos do Sumo Pontífice.

Tiara de Gregorio XVI, 1834
No século XIII foram acrescentadas as fitas posteriores. Elas evocam as fitas que na Antiguidade cingiam a cabeça dos sacerdotes.

A tiara era imposta ao novo Papa pelo Cardeal protodiacono pronunciando a seguinte fórmula: “Recebe a tiara ornada com três coroas e sabe que és o pai dos príncipes e dos reis, o reitor do mundo, o vigário na terra do Salvador nosso Jesus Cristo, ao qual se deve todo honor e toda glória pelos séculos dos séculos”.

Em virtude destes significados, a tiara foi particularmente odiada pelos inimigos da Igreja e de Nosso Senhor Jesus Cristo. Mas, em sentido contrário, ela foi amada até a efusão do sangue pelos santos e pelos fiéis especialmente devotados ao sucessor de Cristo.

Nações e dioceses fizeram questão de doar mais ricas e esplendorosas tiaras ao Pai comum da Cristandade. Por isso há várias tiaras. Elas competem em arte, beleza e riqueza. Alguns Pontífices sobremaneira amados ganharam mais de uma, como o bem-aventurado Pio IX. Várias se conservam no Vaticano.

A tiara não era usada no dia-a-dia, mas nas solenidades. O último a usá-la de público foi S.S. Paulo VI na basílica de São Pedro no dia 30 de junho de 1963.

Em 13 de novembro de 1964, na terceira sessão do Concílio Vaticano II, o secretário do mesmo, Mons. Pericle Felici, anunciou que o Papa Paulo VI doava sua tiara aos pobres.

Então Paulo VI desceu do trono e depôs a tiara sobre a mesa do altar em meio às aclamações dos padres conciliares. Aquela tiara lhe fora presenteada pela arquidiocese de Milão, da qual ele foi arcebispo, com o contributo dos fiéis até dos mais humildes e sacrificados. Desde então, nem ele nem seus sucessores, nunca mais a usaram.

Tiara do Beato Pio IX, doada pela Bélgica
Desde a eleição de S.S. João Paulo I, em agosto de 1978, a cerimônia da coroação foi substituída pela simples imposição do pálio.

A mais antiga representação das chaves cruzadas tendo sobre si a tiara é tempo do pontificado de Martinho V (1417-1431). O sucessor, Eugenio IV (1431-1447), cunhou esse emblema numa moeda de prata, conhecida como o “grosso papale”.

As chaves simbolizam os poderes dados ao Papa por Nosso Senhor Jesus Cristo Evangelho (Mat, 16-19).

Uma chave é dourada e significa que o Papa tem o poder supremo na ordem espiritual. A chave de prata indica que o Poder supremo do Papa sobre a ordem temporal é circunscrito a tudo aquilo que se refere à Fé e à Moral, conservando a ordem temporal sua autonomia naquilo que excede esses campos superiores. A chave dourada passa por cima da chave de prata.

As duas chaves condensam todos os poderes do Papa.

Há pelo menos oito séculos, os Papas têm seu próprio brasão pessoal. No atual de S.S. Bento XVI figura uma concha, a cabeça de moro e um urso.

No domingo 10 de outubro foi ostentado pela primeira vez o brasão de S.S. Bento XVI com a tiara pontifícia, símbolo exclusivo dos Papas.

Até o presente, em seu lugar, havia uma mitra, símbolo próprio de um bispo.

Brasão pessoal de S.S. Bento XVI
A empresa italiana de bordados de luxo Ars Regia responsável pela confecção do brasão bordado no tapete exposto sob a janela em que o Pontífice fala aos peregrinos, explicou que foi feito segundo “a antiga tradição”.

O cardeal Andrea Cordero Lanza di Montezemolo explicou a “La Croix” que a decisão de não mais usar a tiara fora do próprio Bento XVI, quem agora a restaurou. “No dia seguinte de sua eleição, testemunhou o Cardeal, ele próprio disse-me que ele não queria que a tiara continuasse aparecendo e que queria substituí-la por uma mitra”.

Esta restauração foi recebida com júbilo pelos católicos amantes da Cristandade.

(Fonte: L'Osservatore Romano, 10 agosto 2008)

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O rosto de Jesus Cristo impresso nas catedrais medievais

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 “Eu não posso me esquecer que uma das viagens que eu fiz a Paris, eu cheguei à noitinha. Jantei, e fui imediatamente ver a Catedral de Notre-Dame.

Era uma noite de verão, não extraordinariamente bonita, comum.

A Catedral estava iluminada, e o automóvel em que eu vinha passava da rive gauche para a ilha, e eu via a Catedral assim de lado, e numa focalização completamente fortuita.

Ela me pareceu desde logo, naquele ângulo tomado assim, se acaso existisse ‒ em algum sentido existe ‒ eu diria que é tomado ao acaso, eu olhei e achei tão belo que eu fiquei com vontade de dizer ao automóvel:

Veja vídeo
Vídeo: o rosto de Cristo
impresso nas catedrais medievais
“Pára, que eu quero ficar aqui! Eu sei que o resto é muito belo, mas eu creio que poucos olharam essa Catedral desse ângulo e pararam. E eu quero ser dos poucos, para dar a Nossa Senhora o louvor deste ponto de vista aqui, que os outros talvez não tenham louvado suficientemente.

“Ao menos se dirá que uma vez, um peregrino vindo de longe amou o que muitos outros, por pressa, por isso ou por não terem recebido uma graça especial naquele momento para aquilo, não chegaram a amar.”


E em todos os grandes monumentos da Cristandade, depois de admirar as maravilhas, eu tenho a tendência a ir admirando os pormenores, num ato de reparação, porque esses pormenores talvez não tenham sido amados como eles deveriam ser amados.

E então fazer ao menos isto: amar o que deveria ter sido amado e que foi esquecido. É sempre a nossa vocação de levar à tona as verdades esquecidas, que os homens põem de lado.

Eu fiquei encantado com a Catedral naquele ângulo.

Depois dei a volta, e voltei para o hotel com a alma cheia.

E se alguém naquele momento me lembrasse da palavra da Escritura:

“Eis a igreja de uma beleza perfeita, a alegria do mundo inteiro”, eu teria dito: “Oh! como está bem expresso! É bem o que eu sinto a respeito da Catedral.”

E aí, do fundo de nossas almas, do fundo de nossas inocências, sobe uma coisa que é luz, superluz, mas ao mesmo tempo é penumbra ou é obscuridade sem ser treva.

E é a idéia de todas as catedrais góticas do mundo, as que foram construídas, e as que não foram construídas, dando uma idéia de conjunto de Deus. Que, entretanto, ainda é infinitamente mais do que isso.

Aí o espírito que inspirou todas essas catedrais nos aparece.

E aí, realmente, mais nós vivemos no Céu do que na Terra.

E aí o nosso desejo de uma outra vida, de conhecer um Outro, tão interno em mim que é mais eu do que eu mesmo sou eu, mas tão superior a mim que eu não sou nem sequer um grão de poeira em comparação com Ele, esse meu desejo se realiza.

Eu digo: “Ah, eu compreendo, o Céu deve ser assim!”

Nós amamos ainda mais o puríssimo Espírito, eterno e invisível, que criou tudo aquilo, para dizer:

“Meu filho, Eu existo. Ame-me e compreenda: isto é semelhante a Mim.

“Mas, sobretudo, por mais belo que isto seja, Eu sou infinitamente dessemelhante disto, por uma forma de beleza tão quintessenciada e superior, que é só quando me vires que verdadeiramente te darás conta do que Eu sou.

“Vem, meu filho. Vem, que eu te espero!

“Luta por mais algum tempo, que Eu estou me preparando para te mostrar no Céu belezas ainda maiores, na proporção em que for grande e dura a tua luta.

“Espera que, quando estiveres pronto para veres aquilo que Eu tinha intenção de que visses quando Eu te criei.

“Meu filho, sou Eu a tua Catedral!

“A Catedral demasiadamente grande! A Catedral demasiadamente bela!

“A Catedral que fez florescer nos lábios da Virgem um sorriso como nenhuma jóia fez florescer, nenhuma rosa, e nem sequer nenhuma das meras criaturas que Ela conheceu.”

“Essa Catedral é Nosso Senhor Jesus Cristo.

“É o Coração de Jesus que tirou do Coração de Maria harmonias como nada tirou. Ali, tu o conhecerás.”

Ele disse dEle: “Serei Eu mesmo a vossa recompensa demasiadamente grande”.

Video: O rosto de Jesus Cristo impresso nas catedrais medievais



(Fonte: Plinio Corrêa de Oliveira, 13/10/79, excerto sem revisão do autor)

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A espada: símbolo de heroísmo e pompa

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Hoje em dia a espada está completamente superada como arma de guerra, e nem pode entrar em cogitação a idéia de afiar uma espada para entrar em combate.

Atualmente ela não é arma de guerra nem para a agressão nem para a defesa. Pode-se dizer que está praticamente cancelada da lista dos armamentos modernos.

Entretanto, apesar desse fato, em todos os exércitos dos países civilizados os oficiais a trazem consigo nas ocasiões de grande solenidade.

Numa época em que o desaparecimento da espada como arma chega ao seu auge, como símbolo ela ainda é tal, que não se compreende um oficial sem a sua espada.

Por outro lado, em vários países existem Academias de Letras nas quais se usam fardões, e os acadêmicos, nas ocasiões de pompa, portam a espada.

No momento em que o literato chega ao auge de sua glória e é proclamado “imortal” ‒ da mais mortal das imortalidades ‒ não lhe dão uma grande pena para usá-la como simbólico adorno, pois ficaria uma tralha ridícula.

Ele sente-se inibido se não tiver uma espada. De maneira que o literato envergando o fardão, usa a espada.


Até algum tempo atrás, ao fardão dos diplomatas era também incorporada a espada. Atualmente não sei se ainda a conservam.

Por que razão isso é assim?

Porque a espada ficou ligada a uma série de aspectos poéticos e heróicos, símbolos da cavalaria e da dignidade humana, que não se dissociam dela.

Por isso nela costumam estar presentes não só a beleza da forma, mas também a excelente qualidade do material utilizado em sua confecção, muitas vezes ornamentado com incrustações de metais nobres e pedras preciosas.

E quando seu detentor é possuidor de fé ardente e espírito sacral, não hesita em colocar uma relíquia do Santo de sua maior devoção no punho da mesma.

Na Antiguidade clássica, ainda não se construíra em torno da espada toda a legenda que, sobre ela, formou-se durante a Idade Média.

Esta fase histórica soube ver com profundidade a espada, sublimá-la e transformá-la no mais alto símbolo da dignidade humana.

Um rei para ser coroado usa sempre a espada.

Para tudo de elevado, de pompa que o igualitarismo moderno ainda deixou de elevado, usa-se a espada.

O que é mais bonito dizer: “Eu herdei de meu pai uma espada” ou “eu herdei de meu pai uma geladeira, um Cadillac ou uma indústria”?

Pode ser mais lucrativo herdar do pai uma indústria, porém há mais beleza em dizer: “Eu herdei de meu pai uma espada que, nos campos de batalha, defendeu a civilização cristã. Ele foi um herói e morreu na guerra. A espada que usava como militar, como combatente, ele me legou!”

Uma espada assim deveria ser guardada numa capela. Pois ela transformou-se numa relíquia.


(Fonte: Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, 9 de maio de 1969. Sem revisão do autor, apud “Catolicismo”).


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O busto-relicário de Carlos Magno, Patriarca da Europa (741-814)

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O papel de Carlos Magno como autêntico edificador da Europa católica é ímpar, tendo ele lançado os fundamentos das nações européias mediante a fundação de um Império que veio a se tornar o Sacro Império Romano Alemão.

Deste patriarca da civilização européia e, mais especialmente, dos povos de língua germânica, conserva-se um busto-relicário na cidade de Aquisgrão.

Convêm lembrar que em certas dioceses do Norte da Europa está permitido o culto nas igrejas a esse imperador como Beato Carlos Magno, e se veneram suas relíquias.

No ano 800, o Papa Leão III recebeu Carlos Magno em Roma, e o proclamou Imperador Romano do Ocidente.

Com o Sacro Império de Carlos Magno nasceu a Europa como unidade de civilização, a Europa católica.

Seu poder, sua grandeza e sua glória eram reconhecidos além de suas fronteiras. Ele foi o árbitro supremo de toda a Europa cristã, o sustentáculo da Idade Média.


Carlos Magno foi o açoite de todos os povos idólatras e o amparo dos povos tementes a Deus.

O Papa era o Senhor de Roma, e Carlos Magno seu protetor.

A Cristandade tinha duas cabeças: uma espiritual, o Papa; e outra temporal, o Imperador.

Este administrou seus domínios através de enviados especiais, os missi dominici (enviados do senhor), um eclesiástico e um secular para cada condado. Eles recebiam os impostos e aplicavam as decisões de arbitragem.

Nesse período imperial, verificou-se um apogeu cultural em numerosas áreas: a literatura, a música, a filosofia, a teologia, as ciências, a arte decorativa, a arquitetura e a indústria têxtil.

Além disso, reinou grande pujança econômica em todos os níveis do Império carolíngio.

Carlos Magno pode ser considerado um predileto da Providência Divina, promotor dos princípios cristãos e cuja atuação constituiu um marco na História da civilização ocidental.

Faleceu em 814, no 46º ano de seu reinado.


(Fonte: Plinio Corrêa de Oliveira, “Catolicismo”, dezembro 1996).



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A alegria do bom combate

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Musée des Armées, Invalides

Não é grandioso o elmo, esse claustro ambulante dentro do qual não se fala, mas sob o qual um coração pulsa forte?

Sim, porque é o amor de Deus, de Nossa Senhora e da Santa Igreja que lateja no coração do cavaleiro, incendeia seu olhar, arma-lhe o braço, esporeia o cavalo e... crava a lança no peito do infiel.

Entretanto aquele elmo pode servir de mortalha. E, ao cingi-lo, o cavaleiro sabe que se reveste de dupla coragem: a de matar e a de morrer!

Ambas por amor a Deus, a Nossa Senhora e à Santa Igreja. Eis nessa coragem o fundamento de toda beleza do elmo.


Elmo, Invalides, Museu do Exército, ParisElmo... expressão sensível de uma deliberação: "Lutarei por amor a Deus! E se for morto, desde já aceito uma morte atroz, a fim de que os outros passem sobre meu cadáver, avancem e ganhem a batalha! A morte para mim não é uma surpresa, não é um desastre, não é uma inimiga da qual devo fugir espavorido.

"Se a morte é o fim dos dias de todos os homens, que minha morte -- conforme os desígnios da Providência -- tenha este sentido sublime: que ela venha sobre mim provocada por meu amor a Deus, e impulsionada pelo ódio que Lhe votam os adversários.


"Oh morte, neste encontro eu te venço! Porque ainda que tu me arranques a vida terrena... eu te arranco a Vida Eterna!"


(Fonte: Plinio Corrêa de Oliveira, "Catolicismo", fevereiro 1996)

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O Retábulo de Ouro da Basílica de São Marcos, Veneza

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Retábulo de Ouro, catedral de Veneza. Catedrais medievais
A preciosa obra artística denominada Retábulo de Ouro (*), está colocada atrás do altar-mor da célebre Basílica de São Marcos, em Veneza.

Cada um dos esmaltes que ela contém é uma verdadeira maravilha.

No detalhe (à direita), vê-se um esmalte representando a majestade de Nosso Senhor Jesus Cristo, apresentado com as características de um Imperador bizantino, rodeado dos quatro Evangelistas (em destaque, na foto à direita). Em cima, à esquerda, São Marcos, eà direita São João; embaixo, à esquerda, São Mateus, e à direita, São Lucas.

Diz o livro do Gênesis que, tendo Deus criado todas as coisas, no sétimo dia Ele repousou contemplando Sua obra. Fez, então, um balanço da criação: o conjunto dos seres criados era “muito bom” (Gen. I, 31).


Retábulo de Ouro, catedral de Veneza. Catedrais medievaisAnalogamente, no primeiro golpe de olhar que incide sobre o Retábulo de Ouro, nota-se uma beleza que em francês se diria bariolée, isto é, constituída pela mistura indefinida de muitas cores, formas e figuras, e da qual resulta um bariolage extremamente deleitável à vista.

Mas também muito conveniente à piedade, porque os olhos sentem atração para se deterem sobre temas santíssimos, cristianíssimos. E isso contribui singularmente para a formação, em primeiro lugar religiosa e em segundo lugar artística, do povo de Deus.

Todos esses elementos concorrem para que o Retábulo de Ouro seja considerado um verdadeiro tesouro.




(*) Nota: Localizada atrás do altar-mor, encontra-se a famosa obra-prima da ourivesaria medieval que recebeu a denominação Palla d’oro (Retábulo de Ouro). Sua primitiva douração data do ano 978. Ela foi depois enriquecida com mais ouro e esmaltes provenientes das presas trazidas para Veneza, por ocasião da IV Cruzada, de 1202 a 1204. Essa obra compõe-se de mais de 80 esmaltes, em meio a numerosas pedras preciosas, aplicados sobre uma placa de ouro que mede 3,48 metros de extensão por 1,40 de altura.

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Jóias e símbolos na Terra e no Céu Empíreo – 1

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A Idade Média concedeu uma importância enorme aos símbolos. Esses deviam ser feitos com os melhores materiais disponíveis. Sobre tudo quando se tratava das mais altas realidades do Céu e da religião.

Nisto, ela não inovou, pois já os povos da Antiguidade tinham noções semelhantes.

A começar pelo povo judeu que os medievais conheciam pela Bíblia. Baste considerar a fastuosa vestimenta que Moisés mandou fazer para o Sumo Sacerdote.

Há um segundo motivo: o educativo. Deus pôs na Criação admiráveis símbolos que nos ajudam a compreender as verdades mais altas da Fé, como a ressurreição da carne e a vida eterna. Entre esses símbolos conta-se, sem dúvida, as pedras preciosas..

Os corpos dos falecidos na graça de Deus ressuscitarão esplendorosos como sóis, purificados de toda imperfeição, portando como gloriosas condecorações os sinais externos dos grandes feitos da sua vida.

As feridas dos mártires serão fontes de luz; os heroísmos praticados pela Fé, as vitórias contra o vício e o pecado reluzirão como coroas de ouro que iluminarão a alma, transparecendo o brilho nos corpos.


No Céu, as almas verão a Deus face a face – Ele que é fonte inesgotável de todas as perfeições e alegrias. E isso por toda a eternidade, sem ter nem sequer a perspectiva de qualquer sombra de perturbação.

Os corpos, por sua vez, serão envolvidos numa castíssima, temperante e fabulosa variação harmônica de gáudios adequados à natureza material que lhes é própria. Companheiro de trabalhos e lutas da alma nesta Terra, o corpo terá assim seu justo prêmio.

A purificação da Terra

Para este fim, Deus criou um lugar especial para os corpos dos que se salvam: o Céu Empíreo. Além do mais, o Paraíso terrestre lhes estará franqueado, para ali se jubilarem na contemplação dessa obra-prima do universo.

Também esta Terra em que vivemos será purificada. A virtude divina, valendo-se do fogo, tirará dela tudo quanto há de impuro, feio, ruim ou grosseiro – inclusive as más obras dos homens – e lançá-los-á no inferno.

Tudo quanto há de belo e bom será acrisolado e conservado na Terra. Então os bem-aventurados voltarão em corpo e alma, sem esforço nem entraves, aos locais onde se deram grandes lances da História da Igreja, da humanidade e de sua vida pessoal, conversando entre si e trocando felizes lembranças.

Como será a matéria dos corpos ressurretos e da Terra purificada? É difícil sabê-lo. Entretanto, uma rara pedra dá-nos disso uma certa ideia: o diamante.

Sim, a pedra mais cobiçada do mundo é uma pálida mas significativa prefigura da Terra futura!

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Jóias e símbolos na Terra e no Céu Empíreo – 2

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O exemplo do diamante

Segundo a física, o diamante não é senão carvão que foi submetido a temperaturas e pressões extraordinárias em camadas geológicas profundas.

Se o carvão acrisolado dá no diamante, o que darão os outros elementos depois da purificação final do nosso mundo? Ficamos pasmos e maravilhados ante a incógnita.

Cada diamante é como uma gota de orvalho do Céu Empíreo, e dele nos fala naturalmente.

Por exemplo, o esplêndido ostensório da catedral de Palermo, Itália, (ao lado) enriquecido profusamente de diamantes, dá-nos uma ideia da glória do preciosíssimo Corpo e Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, não somente na Hóstia consagrada, mas especialmente no Céu, ao qual Nosso Senhor ascendeu em corpo e alma.

Ele não é medieval, como várias outras peças que comentamos neste post, mas se insere na continuidade da concepção medieval do simbolismo.


Igualmente, a profusão de diamantes encastoados no ouro da soberba "glória" do Santo Costado (lado de Nosso Senhor traspassado por uma lança, e do qual jorrou sangue e água), do tesouro da mesma catedral.

Representa a torrente inexprimível de graças conquistadas por essa chaga aberta pelos algozes de Nosso Senhor durante sua Paixão.

Essa joia religiosa nos permite imaginar também a sublime luz que se desprenderá das chagas dos mártires ressurretos, assim como resplendor dos corpos das Virgens e Doutores da Igreja.

Tiara pontifícia do Papa Gregório XVI
A tiara pontifícia de Gregório XVI, que vemos na foto ao lado, foi confeccionada com muitos diamantes.

Eles realçam o caráter de ponte suprema e infalível entre o Céu e a Terra, próprio do Papa.

Racional [broche] do Papa Leão XIII
E colateralmente nos faz pensar na coroa que corresponde a cada bem-aventurado no Céu.

Fala-nos também dos símbolos materiais com que serão recobertos os bem-aventurados no Céu Empíreo o deslumbrante racional [broche que fecha a capa pluvial] do Papa Leão XIII.



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Jóias e símbolos na Terra e no Céu Empíreo – 3

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O diamante, a mais dura das pedras, é símbolo da virtude inabalável. Ele destina-se a prestigiar a virtude e a santidade.

Mas cada pedra preciosa tem um significado místico religioso. Santa Hildegarda de Bingen, que vai ser declarada Doutora da Igreja em breve, consagrou 26 capítulos de seu livro “Physica” às virtudes e poderes curativos que Deus pôs em cada uma delas.

Estas considerações simbólicas são especialmente verdadeiras quando se trata daquelas instituições na Terra que melhor refletem a ordem e a santidade do Céu: a Santa Igreja Católica e a Civilização Cristã.

Exemplo magnífico é constituído pela insígnia da ordem de origem medieval do Toison d'Or (Tosão de ouro).

A que vemos aqui foi composta para os reis de Portugal com 400 diamantes brasileiros.

A Ordem do Tosão de Ouro, essencialmente secular e honorífica, engajava os seus membros a exaltar o espírito cavalheiresco, tendo como fim principal a glória de Deus e a defesa da Religião cristã.

Ela, entretanto, é apenas uma prefigura dos insignes sinais que portarão na eternidade todos aqueles santos que guerrearam pela Igreja e pela Cristandade nesta vida terrena e passageira.


No mesmo sentido falam-nos as duas peças ao lado: a Grande Cruz e a condecoração das Ordens Militares de Cristo, Santiago e Avis, coroadas pelo Coração de Jesus rodeado de espinhos ao lado.

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Jóias e símbolos na Terra e no Céu Empíreo – 4

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Símbolo de valores morais

Na ordem social e política cristã, cabe à nobreza, e de modo especial aos reis, serem para o povo um modelo de prática adamantina (a palavra se origina de diamante) das virtudes católicas: Santo Henrique, imperador alemão; São Luís IX, rei da França; São Fernando de Castela; São Pedro Urséolo, Doge de Veneza; Santa Isabel da Hungria; Santa Isabel de Portugal; Santa Clotilde – para mencionar apenas alguns, mas esplêndidos exemplos disso.

É pois benéfico para a sociedade que sejam ornados com símbolos da Pátria celeste aqueles que, com seu estilo requintado de vida, nos figuram o ideal do Céu.


É o caso do diadema da rainha Maria Pia de Portugal – feito por volta de 1860 com diamantes do Brasil – ou o da rainha Isabel da Bélgica.

O quadro de Cristina de Lorena, Grã-duquesa da Toscana, ornada com diamantes e pedras preciosas, leva-nos a admirar um conjunto de valores morais e culturais que, na sua perfeição sem mancha, só conheceremos na corte celeste.

No quadro da rainha de Espanha, Maria Luísa, o requinte de refinamento, educação e delicadeza quase faz esquecer a riqueza dos diamantes que ela ostenta.

A pintura, entretanto, é uma pálida figura do resplendor que a visão beatífica comunicará às almas bem-aventuradas, e que excederá o brilho das recompensas reservadas para os corpos ressuscitados no grande palácio do Céu.

Uma antipatia moderna

Em sentido contrário, compreende-se bem quanto o abuso desses símbolos é oposto às finalidades com que Deus os criou.

É o caso do seu emprego pelas religiões pagãs; ou para o mero gozo da vida, vaidade ou exibição de dinheiro pelo dinheiro.

Exemplo típico foi o do diamante Oeil de l'Idole, que um soldado inglês arrancou da testa de um ídolo indiano.

Ou certas obras de joalheria moderna, que empregam nobres pedras para figurar animais ou formas extravagantes, imorais, nojentas ou nocivas.

Mas o antigo paganismo – é preciso reconhecê-lo – não caiu tão baixo quanto o igualitarismo sórdido da nossa época, que odeia por princípio tudo quanto alimenta o desejo do Céu, e por isso antipatiza com elementos como o diamante, que nos proporcionam antegozo e apetência da eterna bem-aventurança.

O carvão, o brilhante e o raio de sol

"O diamante é um carvão que,
nas trevas e sob a pressão dos sofrimentos mais atrozes,
admirou tanto a luz,
que se transformou num raio de sol".
Plinio Corrêa de Oliveira


Fim


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Fra Angélico 1: luz sobre o dogma e a França

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“A França deveria ser para o conjunto das nações católicas a terra da harmonia, da bondade, do sorriso, da generosidade de alma, do dom total de si mesma à vossa pessoa e, por vosso intermédio, a vosso divino Filho; a terra cuja alma se exprime na Sainte Chapelle, em Notre-Dame e em tantos outros monumentos que cantam a vossa glória”.

Ao final deste fragmento de uma oração, dirigida por Plinio Corrêa de Oliveira a Nossa Senhora enquanto Rainha da França, nós poderíamos acrescentar Fra Angélico entre as expressões da alma francesa, embora ele fosse italiano.

A harmonia e a doçura que emanam das linhas e das cores de suas configurações da História Sagrada e das verdades de fé são representações pictóricas inteiramente afins com a sacralidade daqueles monumentos arquitetônicos franceses.

O público francês confirma nestes dias essa atração: desde o final de setembro, todos os dias da semana, as salas de exposição do Museu Jacquemart-André, em Paris, estão continuamente cheias. Elas expõem uma coleção de numerosas pinturas de Fra Angélico.


Sob a chuva fina e gélida deste inverno europeu, as filas de espera à porta do Museu são ininterruptas. Não é fácil entrar, pois a administração não permite excesso de pessoas junto às obras, a fim de proporcionar ao público a calma para se deter diante dos mistérios sagrados ali representados.

O estilo é preciso e singelo: ora radioso e terno quando se trata da gruta de Belém, ora trágico e dolente ao reproduzir a Crucifixão ou martírios, ora manifestando profeticamente a visão do mestre a respeito das verdades contidas no Credo, como a ressurreição dos corpos, a felicidade celeste dos bem-aventurados e o castigo dos condenados.

Verdades há muito desaparecidas da quase totalidade dos sermões dominicais de nossas igrejas — como também nas da França —, verdades que trazem consigo, entretanto, perene atração.

“Angélico pintor” que transcendeu seu tempo

Fra Angélico é o nome com o qual o frade dominicano Giovanni da Fiesole, beatificado por suas virtudes insignes, entrou na legenda como um dos maiores mestres da pintura sacra. Ele viveu na primeira metade do século XV (1410-1455), foi religioso do convento de São Marcos, em Florença.

Pouco depois de sua morte, outro frade, Domenico di Giovanni, admirando cenas da vida de Nosso Senhor Jesus Cristo pintadas num armário para conservar ex-votos doados ao santuário mariano florentino da Santíssima Annunziata, exclamou: “Angelicus Pictor”.

A exclamação bem traduzia o estilo e a linguagem pictórica usados por Fra Angélico. Os contemporâneos viram naquela exclamação uma explicitação do sentimento de todos. A partir de então, ele foi assim conhecido.

De angélico tinham suas obras o espírito da Filosofia Escolástica de Santo Tomás de Aquino — “Doctor Angelicus” —, bem como o do estilo gótico, denominado por muitos de “escolástica de pedra”.

A obra de Fra Angélico se une assim, indissociavelmente, a grandes florões da Idade Média, apesar de ele ter vivido no início da época renascentista.

Mas seu estilo transcende os parâmetros artísticos de seu tempo, conciliando-se com o espírito que impregnou o apogeu da civilização cristã medieval.

O juízo da Igreja sobre suas virtudes ao declará-lo Beato não se formou a partir da análise de eventuais escritos por ele deixados, mas firmou-se sobre a perfeição de alma revelada em suas pinturas.

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(Fonte: Nelson Ribeiro Fragelli, in “Catolicismo”, fevereiro 2012)



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Fra Angélico 2: veneração pelo dogma movia seus pincéis

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O Beato concebeu suas obras, segundo a tradição medieval, como instrumento de apostolado. Ele quis que elas trouxessem ao mundo reflexos da Beleza divina e de sua Igreja — reflexos tão perfeitos quanto seu pincel fosse capaz de representar.

Sua visão do Belo deveria instruir, mover as almas à oração e à contemplação. Foi o que fez na cela dos frades ao receber ordem de seu superior de orná-las com afrescos, no convento de São Marcos. Nelas deixou pinturas cujos traços revelam, em sua pureza e simplicidade, intensa vida interior do artista.

Antigos autores sustentam a hipótese de que ele teria tido visões durante as orações preparatórias para a execução de seus trabalhos de pintor.

Assim como os monges-construtores das primeiras catedrais góticas no século XII tinham em vista exclusivamente a edificação espiritual dos fieis, Fra Angélico apresentou, sob seus traços e suas cores, a verdade e o dogma.


Sob as suaves aparências de seu estilo ele sensibilizou as almas e assim as moveu rumo à aceitação gaudiosa das verdades eternas. Ele sofria ao ver a crescente negação dessas verdades pelo espírito da Renascença, cuja virulência já em seus primórdios contaminava seus contemporâneos, pintores e religiosos como ele.

A suavidade de seus personagens não nos deve iludir. Se os gestos e feições deles não polemizam é porque ao serem pintados os grandes dogmas da Cristandade — ainda não tinham sido negados pelo ímpio Lutero —, o foram sob o influxo de alegria vinda da profunda paz da qual gozam as consciências retas.

Tais gestos e afeições invariavelmente denotam inabalável firmeza de princípios. A firmeza dos traços desperta o sentimento de coerência e de veracidade. A veneração pelo dogma movia seus pincéis.

Representações de perfeições espirituais

Em suas cenas são características as representações de largos espaços nos quais nenhuma ação se desenvolve. Esses espaços, imperceptivelmente, descansam o observador e permitem a meditação.

Ele preferia levar o observador à meditação em vez de provocar aplauso para a obra. Pouco tempo depois, com o advento da plena Renascença, seriam suprimidos esses espaços nas concepções artísticas, sobrecarregando-as de elementos geométricos ou alegóricos, excitando assim a imaginação em detrimento da composição lógica.

Estas execuções renascentistas introduziam a artificialidade, colhiam aplausos dos espíritos e os louvores faziam rejubilar seus autores voltados à glória terrena.

A singeleza das composições de Fra Angélico torna-as facilmente inteligíveis, os detalhes são subsidiários da idéia central e sua perspicácia psicológica enriquece agradavelmente o conhecimento. Suas obras ensinam.

As fisionomias, ao exprimir densidade de pensamento ou de sentimentos, comunicam a certeza de terem sido aquelas mesmas as cogitações do personagem representado. Ele tornou presente a vocação de cada figura através de seus traços fisionômicos.

Suas cenas são, portanto, repletas de um sentido histórico superior. Sua simbologia não é enigmática nem requer uma chave de interpretação para que o pensamento seja inteligível.

Ela é de um entendimento simples e imediato, embora, uma vez compreendida, desperte o agradável sentimento de se atingir uma superior percepção de um mistério divino.

Nesses quadros, paradoxalmente, o mistério nada tem de obscuro, mas é apresentado sob a luz da razão. Eles reproduzem assim, de algum modo, os ensinamentos da Revelação.

O encanto pelo mistério não é despertado por um astucioso jogo de cores, mas provém de aspectos sublimes da santidade delicadamente apresentados.

Tal como nas catedrais, é a luz e seus matizes que elevam os corações. “Ad lucem per crucem”, diz-se na Igreja. O sofrimento é apresentado pelo frade pintor como sendo um caminho rumo a revelações superiores.

Mesmo nas cenas de martírio as fisionomias permanecem inabaláveis, fixas em suas certezas e em sua determinação.

No quadro “São Lourenço ajuda os pobres”, as feições dos mendigos traduzem tanta calma e segurança quanto a de São Lourenço, portador da bolsa de moedas. Esplendorosamente vestido, São Lourenço jejuava a fim de dar aos pobres mais virtudes do que dinheiro, e o modo com o qual eles o fitam mostra que pediam do santo, sobretudo gestos e palavras de vida eterna. Assim eram os espíritos naquela época de fé.

Na cena inteira ressuma o desejo do pintor de inspirar virtudes sublimes. “Fra Angélico teve o carisma de exprimir em suas obras a perfeição espiritual — expressão tão mais excelente quanto mais elevado era o objeto da obra” (Plinio Corrêa de Oliveira).


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(Fonte: Nelson Ribeiro Fragelli, in “Catolicismo”, fevereiro 2012)


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